quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Você ainda vai me amar amanhã?

A resposta óbvia para essa questão é sempre sim.

Mas a pergunta não tão óbvia é como se pode fazer essa promessa sobre o amanhã ou sobre o futuro? Imaginemos que você caminhou até o ponto de ônibus nesta manhã. Você confiou que o chão apoiaria cada passo que deu. Mas o que o fez acreditar que o "próximo" passo não o levaria a um buraco que surgisse repentinamente? Resultados passados certamente não são nenhuma garantia, como dizem as letras pequenas dos contratos. Mas será que o histórico da Terra, de apoiar seus bilhões de passos anteriores, pelo menos faz que seja altamente provável que ela vai apoiar seu próximo passo?

Só seria assim se você assumisse que o futuro será como o passado - porque se não assumir isso, então não seria.

Mas como você justificaria essa hipótese em si mesma?

Bem, o futuro sempre tem sido como o passado, até o momento, então não temos razão para acreditar que ele vai continuar a ser como o passado? Não, porque isso só repete o problema, uma vez que apenas assume que os padrões do passado continuarão no futuro. Mas essa é a própria hipótese que estamos tentando justificar! E não dá para justificá-la apenas supondo que é verdadeira. O que significa que você não tem uma boa razão para acreditar que o futuro será como o passado - nem, por outro lado, diferente. O que significa que os resultados do passado não servem como guia do futuro.


Portanto você provavelmente deveria evitar dizer qualquer coisa sobre o amanhã. Na próxima vez que fizerem a pergunta do título, eu o aconselho a sair correndo - exceto se não tem nenhuma boa razão para acreditar que a Terra vai apoiar seus passos. Quem sabe você devesse ficar parado e em silêncio? No enanto, pelo mesmo raciocínio, você também não possui nenhuma boa razão para acreditar que a Terra vai continuar a servir de base para onde você estiver parado. Talvez a coisa a fazer seja como eu disse: responder sim. E rápido. Se for questionado sobre sua hesitação, apenas diga que estava imaginando o futuro dos dois.

Pessin, Andrew. Filosofia em 60 segundos: Expanda sua mente com um segundo por dia!; Tradução: Marcelo Barbão -- São Paulo, Leya 2012. P. 91 - 92.