sexta-feira, 18 de março de 2011

O Carrasco do Amor (I)

Segue um pequeno trecho que retirei do livro "O Carrasco do Amor" (págs. 16-19), de Irvin Yalom. Ele serve como caminho para um pensamento que posteriormente será transcrito em bits.



Todo terapeuta sabe que o primeiro passo crucial na terapia é a aceitação por parte do paciente da responsabilidade pela sua condição de vida. Na medida em que a pessoa acredita que seus problemas são causados por alguma força ou entidade fora dela, não há avanço na terapia. Afinal de contas, se os problemas estão fora, por que a pessoa deveria se modificar? É o mundo externo (amigos, trabalho, cônjuge) que deveria ser modificado – ou trocado.

(...)

Embora a aceitação da responsabilidade conduza o paciente ao limiar da mudança, ela não é sinônimo de mudança. (...) A liberdade não apenas requer que aceitemos a responsabilidade por nossas escolhas de vida, como também pressupõe que a mudança demanda um ato de vontade.

(...)

É pela vontade, o principal motivo da ação, que nossa liberdade se desenvolve. Eu vejo a vontade tendo dois estágios: uma pessoa começa por meio do desejo e depois realiza, por meio da decisão.

Algumas pessoas têm desejos bloqueados, não sabem o que sentem nem o que querem. Sem opiniões, sem inclinações, elas se tornam parasitas dos desejos dos outros.

(...)

Outros pacientes não conseguem decidir. Embora saibam exatamente o que querem e o que precisam fazer, eles não conseguem agir, e, ao contrário, ficam no mesmo lugar, atormentados, diante do portal da decisão.

(...)

Decisões são difíceis por muitas razões, e algumas atingem o próprio cerne da existência. John Gardner, em seu romance Grendel, fala de um homem sábio que resume suas meditações sobre os mistérios da vida em dois postulados simples, mas terríveis: “as coisas desaparecem gradualmente: as alternativas se excluem.” (...) “as alternativas se excluem”, é uma chave importante para compreendermos por que a decisão é difícil. A decisão invariavelmente envolve renúncia: para cada sim deve haver um não, cada decisão elimina, ou mata, outras opções (a raiz da palavra decidir significa “matar, como em homicídio ou suicídio).

O Carrasco do Amor / Irvin D. Yalom; tradução Maria Adriana Veríssimo Veronese, – Rio de Janeiro: Ediouro, 2007 


P.S.: Aos que sentiram incomodados pela presença do termo "paciente" neste texto, faço uso das palavras do autor: "A condição de ser paciente é onipresente; a aceitação do rótulo é amplamente arbitrária e frequentemente depende mais de fatores culturais, educacionais e econômicos do que da severidade da patologia".


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