domingo, 13 de janeiro de 2013

Asmático Espiritual


(...)

Olha, passei a noite toda respirando, estou respirando desde que acordei, e juro que agora é primeira vez que eu penso no ar. Não pensei nem falei no ar porque somos bons amigos. Ele entra e sai do meu corpo quando quer, sem pedir licença. Mas a estória seria outra se eu estivesse com asma, os brônquios apertados, o ar sem jeito de entrar, ou, como naquele anúncio antigo do xarope Bromil, o coitado do homem sufocado por uma mordaça, gritando pelo ar que lhe faltava. Por via das dúvidas até andaria com uma garrafa de oxigênio na bagagem, para qualquer emergência.

– Pois Deus é como o ar – continuei. – Quando a gente está em boas relações com ele, não é preciso falar. Mas quando a gente está atacado de asma, então é preciso ficar gritando por Deus. Do jeito como o asmático invoca o ar. Quem fala com Deus o tempo todo é asmático espiritual.

(...)

Não acredito em oração em que a gente fala e Deus escuta. Acredito mesmo é na oração em que a gente fica quieto para ouvir a voz que se faz ouvir no meio do silêncio.  




Alves, Rubem. Palavras para desatar nós; Campinas -- SP. Papirus, 2011. Págs. 44 e 45.


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Você ainda vai me amar amanhã?

A resposta óbvia para essa questão é sempre sim.

Mas a pergunta não tão óbvia é como se pode fazer essa promessa sobre o amanhã ou sobre o futuro? Imaginemos que você caminhou até o ponto de ônibus nesta manhã. Você confiou que o chão apoiaria cada passo que deu. Mas o que o fez acreditar que o "próximo" passo não o levaria a um buraco que surgisse repentinamente? Resultados passados certamente não são nenhuma garantia, como dizem as letras pequenas dos contratos. Mas será que o histórico da Terra, de apoiar seus bilhões de passos anteriores, pelo menos faz que seja altamente provável que ela vai apoiar seu próximo passo?

Só seria assim se você assumisse que o futuro será como o passado - porque se não assumir isso, então não seria.

Mas como você justificaria essa hipótese em si mesma?

Bem, o futuro sempre tem sido como o passado, até o momento, então não temos razão para acreditar que ele vai continuar a ser como o passado? Não, porque isso só repete o problema, uma vez que apenas assume que os padrões do passado continuarão no futuro. Mas essa é a própria hipótese que estamos tentando justificar! E não dá para justificá-la apenas supondo que é verdadeira. O que significa que você não tem uma boa razão para acreditar que o futuro será como o passado - nem, por outro lado, diferente. O que significa que os resultados do passado não servem como guia do futuro.


Portanto você provavelmente deveria evitar dizer qualquer coisa sobre o amanhã. Na próxima vez que fizerem a pergunta do título, eu o aconselho a sair correndo - exceto se não tem nenhuma boa razão para acreditar que a Terra vai apoiar seus passos. Quem sabe você devesse ficar parado e em silêncio? No enanto, pelo mesmo raciocínio, você também não possui nenhuma boa razão para acreditar que a Terra vai continuar a servir de base para onde você estiver parado. Talvez a coisa a fazer seja como eu disse: responder sim. E rápido. Se for questionado sobre sua hesitação, apenas diga que estava imaginando o futuro dos dois.

Pessin, Andrew. Filosofia em 60 segundos: Expanda sua mente com um segundo por dia!; Tradução: Marcelo Barbão -- São Paulo, Leya 2012. P. 91 - 92.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

5 Milhões

Criança, quando eu visitava minha avó esse era o valor que ela anunciava quando colocava a mão no bolso para me tirar algum dinheiro.

Como o Real já era a moeda corrente no país, 5 milhões era muito dinheiro... e o que eu poderia comprar com todo ele?

Toda a loja de brinquedos, talvez?

Minha escola.. para que eu pudesse fecha-la em seguida?

Melhor ainda! Gastar tudo em Kinder Ovo! Haaaa.. seriam 5 milhões desses ovinhos vez vermelho e branco.

MAS... como não é fácil ser ingênuo, o terceiro anúncio era o seguinte...

“Tome fio.. 5 milhões de CRUZEIROS que a vó guardou para você comprar um doce“.

E, de repente.. 5 milhões de Kinder Ovos era Kinder Ovo nenhum, durante o tempo do último anúncio e o saque da nota de 5 Reais do bolso do “penhórzinho“.

Verdade seja dita, esse valor era uma fortuna para uma criança de 9 anos naquela época. E talvez, ao anunciar os 5 milhões pela força do hábito que a moeda antiga havia deixado, ela.. sem querer... predizia que os 5 reais já fariam seu neto se sentir o próprio Tio Patinhas.

Enfim...

Acho que essa é minha lembrança mais marcante da vózinha que hoje partiu descansar, depois de quase 100 anos habitando este “mundo véio sem porteira“, como diria meu avô.

Mas o dia não pede uma bandeira negra de luto. Pede uma bandeira branca, de paz... A paz de acompanhar o "olhar para trás" desta senhora no final de sua vida e ver uma história de conquista, mesmo tendo se deparado com muitos percalços durante o caminho.

E, tendo acompanhado de perto estes últimos anos de minha avó, posso afirmar com propriedade que se podia tirar uma lição de cada dia vivido desta senhora...

... a vida urge ser vivida (velha expressão). E enquanto tantos lutam para mantê-la, outros tantos.. a desperdiçam!

Independente de idade, saúde, condição financeira e outras variáveis.. todos estamos igualmente suscetíveis a morte. E, mesmo sabendo disso, parece que tem gente que apenas passa o tempo a espera dela.

Facebookeando agora pouco com meu amigo Rafael Cembranelli, recebi a seguinte mensagem...

"Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu."
(A frase ainda carece de fonte meu xará! haha)

Isso me economiza um bom exercício de pensamento, pois traduz muito do que se passa em minha cabeça hoje.

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Post dedicado a minha mãe, Tereza Lobo, que além de super mãe e super avó, também foi super filha..

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Ouvindo Elvis...

Hoje acordei com uma música do Mr. Presley na cabeça. O hit tem um repetitivo...

"A little less conversation, a little more action please!"
(Um pouco menos de conversa, um pouco mais de ação, por favor!)

Com isso em mente, pensei um pouco sobre o quanto tenho parado para refletir sobre algumas opções e, consequentemente, sobre algumas escolhas. E não pude deixar de perceber o quanto tempo tenho gasto inutilmente (!) por achar que tudo nesta vida é importante.

Bom, não precisamos ir muito a fundo em nossas lembranças para percebermos que.. as coisas não são bem assim...

Como Elvis canta, a vida deve prática.

Então, criei "esquema de praticidade" (que raios é isso?!?!?!).

É assim...

...já que Jesus é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14, 6) - então as decisões sinceras e que tenham  vida como consequência, serão escolhas "automáticas".

Acho que é um esquema BEM simples, mas não simplório. Com o tempo, vamos descobrir se vai dar certo...


"Grab your coat and let's start walking." 
(Pegue seu casaco e vamos caminhando.)  

terça-feira, 6 de março de 2012

Cuide Bem

"Cuide bem do seu amor
Seja quem for.
(...)
Cada segundo, cada momento, cada instante
É quase eterno, passa devagar
Se o seu mundo for o mundo inteiro
Sua vida, seu amor, seu lar
Cuide tudo que for verdadeiro
Deixe tudo que não for passar.


Os Paralamas do Sucesso

sábado, 17 de dezembro de 2011

Pseudocomunhão

Ainda que a sociedade moderna continuamente nos prometa acesso a uma comunidade, trata-se de uma comunidade centrada no culto ao sucesso profissional. Sentimos que estamos batendo à sua porta quando a primeira pergunta que nos indagam em uma festa é "o que você faz?" - e a resposta determinará se seremos bem acolhidos ou se nos abandonarão ao relento. Nessas reuniões competitivas e pseudocomunais, poucos de nossos atributos valem como moeda para comprar a boa vontade de estranhos. O que importa, acima de tudo, é o que está em nossos cartões de visita, e aqueles que optaram por passar a vida cuidando dos filhos, escrevendo poesia ou jardinando ficarão com a certeza de que foram contra a corrente dos costumes dominantes dos poderosos e que merecem ser devidamente marginalizados.

Com esse nível de discriminação, não causa surpresa que muitos de nós decidam se atirar com tudo nas carreiras. Focar na vida profissional em detrimento de quase todo o resto é uma estratégia bastante plausível em um mundo que aceita as conquistas no ambiente de trabalho como a principal moeda para assegurar não apenas os meios financeiros de sobreviver fisicamente, mas a atenção de que necessitamos para ter êxito do ponto de vista psicológico.


Religião para ateus (pág. 26) / Alain de Botton; tradução de Vitor Paolozzi - Rio de Janeiro: Intrínseca, 2011


domingo, 15 de maio de 2011

Pedido ao Tempo

Peço que largue mão de passar tão rápido aos fins de semana. Domingo a noite, que quando aponta, já anuncia que a segunda começa presa por uma corrente, que arrasta o peso das coisas que se fazem por obrigação.

De querer dar tanto valor a saudade, fazendo com que cada segundo longe de quem se gosta pareça tanto...  tanto... tempo.

Pode o tempo não querer ouvir o meu pedido, e dar de ombros com a minha insatisfação.



O que me força a ser mesquinho e, só de sacanagem (parafraseando Elisa Lucinda), agir diferente.



Vou fazer com que minha manhã de segunda-feira seja diferente! EU vou dar de ombros ao que alimenta sua "vagarosidade".

Vou procurar oportunidades em cada coisa que eu fizer, por mais banal ou "desinteressante" que possa parecer.

Dar o devido valor a vida, assumindo a minha responsabilidade de estar inteiro em cada instante.



Esteja preparado para isso! Estou deixando de me eximir da minha culpa em ficar aguardando que você se multiplique.

Sua chacota está com os dias contados!

Vou aprender o que puder com Pollyana.



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Não sei porque escrevi isso. Foi inspirado por tanta coisa.

Meus amigos e minha família que me dão tanta saudade...
Este bendito fim de semana que passa rápido...
Ao Caetano Veloso, do qual estão tentando me fazer um ouvinte (não é Carla?)...
A Elisa Lucinda com seu manifesto particular...
E ao Machado de Assis, que escreveu

"Nós matamos o tempo, mas ele nos enterra."


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P.S.:  Por favor, fique a vontade de complementar ou alterar o texto. Para isso, utilize os comentários!